terça-feira, 5 de abril de 2011

QUARESMA (FONTE CANÇÃO NOVA)

Dom Alberto Taveira
Dom Alberto Taveira

"A Quaresma é uma grande romaria em direção à Páscoa"

Na Quarta-feira de Cinzas inicia-se um tempo forte para toda a Igreja: o tempo da Quaresma, quarenta dias em que todos os fiéis cristãos são chamados a uma profunda revisão de vida, de forma a alcançarem a conversão nas atitudes, sentimentos e valores em preparação para a Páscoa do Senhor.

Há mais de dez anos Dom Alberto Taveira escreve o “Retiro Popular”, roteiro de oração e meditação para o período quaresmal. Neste ano, o tema escolhido é “Peregrinos”.

“O que realmente importa é a decisão, suscitada pela graça de Deus, de partir em peregrinação ao retiro quaresmal. Esta é uma Quaresma de peregrinos, de gente que olha para frente e para o alto”. Essas são palavras do Arcebispo de Belém (PA), que, em entrevista coletiva, falou sobre o “Retiro Popular” deste ano.















cancaonova.com: Dom Alberto, por que o título “Peregrinos” para o “Retiro Popular 2011”?

Dom Alberto Taveira: A cada ano eu procuro refletir para chegar a um tema. No ano passado tive a minha primeira participação no Círio de Nazaré. Eu sou Arcebispo de Belém (PA), e ali vive um povo que tem a característica da romaria, da peregrinação. Durante o essa manifestação religiosa pensei: “A Quaresma é uma grande romaria em direção à Páscoa”. Diante disso, trabalhei todos os temas quaresmais em torno dessa ideia da peregrinação. Tanto que, na abertura do livro, eu tomei um trecho do Salmo 84, que expressa bem essa característica da nossa vida de fé: “Felizes os que têm em Vós a sua força e se decidem a partir quais peregrinos. Quando passam pelo vale da aridez o transformam numa fonte borbulhante, pois a chuva o vestirá com suas bênçãos. Caminharão com ardor sempre crescente e hão de ver o Deus dos deuses em Sião”.


cancaonova.com: Qual a novidade do “Retiro Popular” neste ano?
Dom Alberto Taveira: Este texto do Salmo 84 diz assim que, quando o peregrino passa, o vale da aridez se transforma em fonte borbulhante. A novidade é que, se nós vivermos a vida como peregrinos, o caminho ficará diferente. Hoje nós tendemos a ficar muito dependentes das circunstâncias, não é? Então, se tem chuva, se tem sol, frio ou calor... ficamos dependendo disso; quando a experiência da fé nos deve fazer transformar a realidade. Os ambientes se transformam quando vivemos bem essa nossa busca de vida cristã. Então, a novidade é que o cristão transforme a sua vida e transforme o mundo pela sua presença. Eu penso que a novidade está no enfoque que cada pessoa dá a essa sua vivência quaresmal.


cancaonova.com: Além das propostas apresentadas no “Retiro Popular 2011” para vivermos bem o tempo quaresmal, o que mais o senhor acrescentaria como prática salutar para esse tempo forte de conversão?
Dom Alberto Taveira: Eu penso que o esforço feito neste “Retiro Popular” abrange a grande proposta da Igreja. Nessa obra estão os pontos principais propostos pela Igreja. Se chegarmos a viver esses pontos, certamente já teremos feito um bom percurso para a Quaresma. Até para chegarmos à outra parte, porque não podemos enxergar a Quaresma de forma “fechada”. Nós temos o mistério da Páscoa de Cristo. Quarenta dias para nos preparar é igual à Quaresma. Cinquenta dias para celebrar e para “curtir” o tempo pascal. Cinquenta dias vividos como se fossem um dia só! É o tempo das mistagogias, que quer dizer: a iniciação aos mistérios [religiosos]. Muitas vezes, nós valorizamos o tempo quaresmal, mas nos esquecemos de verificar a outra vertente. Quem sabe, um dia, nós possamos até escrever alguma coisa para viver a “cinquentena” pascal. (risos)



"Você pode discutir ideias, doutrinas, mas testemunho não dá para discutir"

Foto: Wesley Almeida / CN



cancaonova.com: Temos visto cada vez mais pessoas indiferentes às práticas quaresmais da esmola, da oração e do jejum. É possível reverter essa realidade? De que forma?
Dom Alberto Taveira: Eu acho que o Evangelho é sempre o mesmo. As propostas do Evangelho são as da oração, da caridade e também da penitência. A oração é nosso relacionamento com Deus. A caridade é nosso relacionamento com o próximo. E o jejum e a penitência significam o equilíbrio dos nossos impulsos. Vou dar só um exemplo: quantas pessoas fazem mais exercícios de falta de alimentos do que aqueles que fazem jejum. Por motivos estéticos ou de saúde, as pessoas fazem dieta. Encontraram um motivo para fazê-lo. Com relação à oração, hoje se faz propaganda da meditação. A meditação é muito mais vista como fixar uma ideia. E nós temos uma meditação muito mais profunda, que é a partir da Palavra de Deus na experiência da vida cristã. Se hoje se fala de solidariedade como, por exemplo, diante das recentes situações de catástrofes em nosso país, as pessoas se unem. E nós já temos a proposta do amor ao próximo.

Acho que nós podemos dialogar com essas formas de penitência, de oração, de meditação e de solidariedade, conversando com as pessoas e ajudando-as a valorizar todas essas realidades. Mas a recuperação dessas práticas religiosas, a meu ver, só pode acontecer quando houver um efetivo processo de evangelização. Quando você descobre Jesus Cristo como Senhor, aí vem, como consequência disso, um equilíbrio no relacionamento com Deus, com o próximo e consigo. Penso que o caminho vai muito pela estrada da evangelização.


cancaonova.com: Nas mídias digitais, há iniciativas para banalizar o que é sagrado e contestar valores ensinados pelo Cristianismo. Como os cristãos inseridos nesse meio digital podem viver a Quaresma com profundidade e propagar esse apelo à conversão feito pela Igreja?
Dom Alberto Taveira: Objetividade na vivência cristã. Não ficar “dando voltas”. Porque as linguagens das novas mídias são muito rápidas. Então, é preciso dizer aquilo que precisamos dizer com rapidez, sem ficar “enrolando”. Acho que podemos muito dialogar com essas realidades e oferecer, especialmente, o testemunho. Porque você pode discutir ideias, doutrinas, mas testemunho não dá para discutir.


cancaonova.com: A Campanha da Fraternidade de 2011 tem como tema “Fraternidade e a Vida no Planeta” e lema “A criação geme em dores de parto”. O objetivo é nos conscientizar sobre os cuidados com o meio ambiente. Qual contribuição o “Retiro Popular” oferece em relação a isso?
Dom Alberto Taveira: Neste mesmo texto de São Paulo diz que “a criação geme em dores de parto” e diz também que “ela – a criação – espera a manifestação dos filhos de Deus”. A criação sozinha, a natureza sozinha, não tem as respostas. Os filhos de Deus é que têm de dar a resposta. Se esse livro [“Retiro Popular”] ajuda a formar homens renovados no Espírito Santo de Deus, ele contribui para darmos respostas aos clamores da criação, porque só por meio de normas não conseguiremos resolver os problemas ecológicos. Precisamos fazê-lo como homens novos.

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